Querido diário,

Sentir raiva o tempo inteiro é uma merda.

Nada mais parece me impressionar, eu não consigo entender como as pessoas podem se sentir animadas com alguma coisa, não mais.

Eu sinto raiva de tudo.

Sinto raiva quando falam comigo.

Sinto raiva quando não falam comigo.

Sinto raiva das pessoas conversando na tl.

Sinto raiva dos meus amigos. Eu sinto muita raiva dos meus amigos.

Sinto raiva do fato de que todo mundo tem alguém em suas vidas. Todo mundo tem uma prioridade, alguma coisa melhor pra fazer, alguém mais legal com quem falar.

Afinal, quem vai querer ouvir a chata da Chaeyeon falando as mesmas merdas de sempre? Eu também não iria querer. Uma garota insuportável que só sabe se lamentar sobre a vida e ser chata em todos os aspectos da vida, quem vai querer esse encosto na vida? Eu não iria. Então não posso julgar ninguém por, na primeira oportunidade, ir com seus amigos mais legais.

Até porque, todo mundo tem alguém. E esse alguém nunca sou eu.

Ninguém nunca tem a Chaeyeon como sua primeira opção. E a culpa é toda minha.

Porque a minha vida inteira, tudo o que eu sou, tudo o que eu fiz, foi tudo baseado em uma única pessoa, tudo girava ao redor dela. E ela não está mais aqui.

A única pessoa que estava sempre ali pra mim, foi embora.

Acima de tudo, eu sinto muita raiva da minha vózinha por ter me deixado completamente sozinha.

Tudo o que eu fiz a vida inteira foi por ela.

Eu comecei isso tudo por ela. Comecei a fazer lives por ela, entrei no Hamdeok por ela, porque a possibilidade de ganhar algum dinheiro era o que podia salvar ela.

Eu vivi por ela a minha vida inteira. Eu nem gosto de League of Legends, sempre achei esse jogo medíocre e insuportável. Mas era o que dava views no canal, e pra alguém que não tinha onde cair morta, qualquer coisa importava. Mesmo que isso significasse me sacrificar, trabalhar o dia inteiro e fazer live a noite inteira, tudo isso pra conseguir pagar as contas médicas e os remédios.

No final, a verdade é que nunca existiu uma Chaeyeon de verdade. Talvez um dia a Charlotte Hak tenha tido uma vida, uma infância, sonhos e objetivos, planos para o futuro que foram enterrados há sete palmos junto dos meus pais.

De que adiantava sonhar com um futuro onde eu era uma estrela da Broadway quando eu mal tinha o que comer pra ficar viva e, quando tinha, preferia dar para a pessoa que realmente precisava disso dentro de casa? Ninguém ganha dinheiro com teatro hoje em dia, e por isso a Hak Chaeyeon foi uma persona inventada com o objetivo único de manter essa uma pessoa viva. De manter a minha avó viva.